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terça-feira, 6 de outubro de 2009

Resumão sobre Roteiro,Escaleta, Story Line

UM DOCUMENTO CHAMADO ROTEIRO
por Fernando Marés de Souza

“Porque o roteiro é o sonho de um filme”
Jean-Claude Carrière

O QUE É UM ROTEIRO

A grande maioria das pessoas nunca segurou um roteiro nas mãos, mas se questionadas sobre o que é um, poucas não tentariam responder. Muitos acertariam a resposta, poucos conseguiriam se aprofundar na definição.

Alguns se equivocariam, na crença que o roteiro é a história de um filme. O roteiro conta a história de um filme, mas não é a própria história. A história contada em um filme pode ser a definição de Argumento, mas isso também, já é outra história.

Uma ida a prateleira de livros pode clarear bem as idéias. Dicionários sempre são uma boa ferramenta para autodidatas:

“Roteiro: Documento que contem o texto de filme cinematográfico, vídeo, programa de rádio, etc." - Dicionário Novo Aurélio

Definição perfeita. O “etc” é uma bela sacada, pois se exime da responsabilidade pelo que ficou de fora. Vamos tentar fazer justiça aos não discriminados pensar nos variados meios que se utilizam deste documento chamado de roteiro: cinema, vídeo, televisão, rádio, quadrinhos, hipermídia (interativos como hipertexto, games e cd-roms), e por que não, teatro, apresentações, eventos, shows, e para não passarmos vexame, etc.

Na prática, alguns assaltos, assassinatos e atos terroristas também se utilizam de um roteiro, mas melhor deixar isso de lado, pois este manual se propõe a ser sobre Roteiro Audiovisual:

“Roteiro: Texto que desenvolve um argumento e que indica como deve realizar-se qualquer tipo de obra audiovisual.” - Diccionário del Guión Audiovisual

Certo, mas agora temos que voltar a prateleira para saber o que é Audiovisual. Para nos poupar disto, ofereço uma definição mais completa:

“O Roteiro Audiovisual é um documento escrito que desenvolve uma história e indica como deve realizar-se uma obra para um meio que transmite mensagens através de som e imagem, como o cinema e a televisão.” - Fernando Marés de Souza, usando um par de dicionários e um pouco lógica aristotélica.

Devidamente alçado ao panteão dos criadores de definições, vamos ver o que os teóricos sobre o assunto podem nos contar:

“O Roteiro é a forma escrita de qualquer audiovisual. É uma forma literária efêmera, pois só existe durante o tempo que leva para ser convertido em um produto audiovisual. No entanto, sem material escrito não se pode dizer nada, por isso um bom roteiro não é garantia de um bom filme, mas sem um roteiro não existe um bom filme". - Doc Comparato

Interessante esta história de efêmero. Já ouvi dizer que o destino do roteiro é a lata de lixo depois de ser utilizado, mas será verdade? Ainda não é o momento de responder. Mais saiba que a maioria pensa assim:

“O roteiro representa um estado transitório, uma forma passageira destinada a desaparecer, como a larva ao se transformar em borboleta. Quando o filme existe, da larva resta apenas uma pele seca, de agora em diante inútil, estritamente condenada à poeira. (...) Pois o roteiro significa a primeira forma de um filme. E quanto mais o próprio filme estiver presente no texto escrito, incrustado, preciso, entrelaçado, pronto para o vôo como a borboleta, que já possui todos os órgãos e todas as cores sob a aparência de larva, mais a aliança secreta (...) entre o escrito e o filme terá chances de se mostrar forte e viva.” - Jean-Claude Carrière

Lindo e poético, mas muito metafórico para um roteirista. A indústria exige algo mais simples e direto:

“Roteiro é uma história contada em imagens, diálogo e descrição, localizada no contexto da estrutura dramática." - Syd Field

Estrutura dramática. O autor gasta uma página e introduz uma dúzia de novos conceitos para explicar o que é isto. Será que alguém consegue sintetizar? Sempre existe alguém disposto a tentar:

“O Roteiro é uma história contada com imagens, expressas dramaticamente em uma estrutura definida, com início, meio e fim, não necessariamente nessa ordem.” - Chris Rodrigues

Bem melhor. Começo, meio e fim. Isto me lembra que a lista de definições pode ser interminável, sendo que a semelhança entre elas é aparente.

“Os americanos chamam-no screenplay, uma peça para a tela, de maneira a distinguí-la da simples play, destinada ao placo. Os franceses o chamam de scenario, para designá-lo como um conjunto de cenas. E nós o chamamos de roteiro. E não é uma má palavra para o caso. Roteiro é uma rota não apenas determinada, mas “decupada”, dividida, através da discriminação de seus diferentes estágios. Roteiro significa que saímos de um lugar, passamos por vários outros, para atingir um objetivo final. Ou seja: o roteiro tem começo, meio e fim - conforme Aristóteles observou na tragédia grega como uma necessidade essencial da expressão dramática." - Luiz Carlos Maciel

Depois de tantas definições, você pode usar um pouco de lógica aristotélica e construir a sua.

PARA QUE SERVE UM ROTEIRO

Cinema é arte, sem dúvida, a sétima arte. Mas cinema é também indústria. É indústria pois precisa de meios de produção, acumulação de capital e divisão especializada do trabalho. E é a serviço desta indústria, que o roteiro exerce sua principal função.

“O roteiro é a ferramenta básica da indústria de cinema e televisão.” - Cole & Haag

O roteiro será o documento chave, onde todos os outros profissionais envolvidos com a realização de um produto audiovisual basearão seu trabalho.

“Roteiro é (...) um discurso verbal, escrito de forma a permitir a pré-visualização do filme por parte do diretor, dos atores, dos técnicos e dos possíveis financiadores. Um instrumento de trabalho e de convencimento. (...) Uma utopia criativa a serviço de um objetivo fundamentalmente econômico: uma boa definição não só de roteiro, mas da própria essência do cinema.” - Giba Assis Brasil

A realização de um produto audiovisual demanda um investimento de capital muito alto. O roteiro é a maneira de pré-visualizar este produto, e minimizar os riscos de investimento.

“Desde uma perspectiva comercial, um roteiro é uma proposta para o lançamento de um produto. Os aspectos artísticos podem ser decisivos 'a priori', mas sempre se impõe as possibilidades econômicas na hora de aprovar um projeto. (...) Em função de um roteiro literário, a produtora pode estimar o custo de um filme e elaborar um estudo de mercado que assegure sua acolhida como produto. (...) E quando buscam o financiamento necessário para o futuro filme, só podem oferecer uma coisa: a história” - António Sanchez-Escalonilla

O roteiro serve então, como uma simulação de um produto audiovisual sonhado.

PROCESSO DE ROTEIRIZAÇÃO

ARGUMENTO

Segundo uma das definições do Novo Aurélio é: “História especialmente preparada para cinema.”

Porém, definições mais amplas também se aplicam: assunto, tema, enredo, sumário, resumo. Para Ramos & Marimón, no Diccionario del Guión Audiovisual: “Argumento é a história narrada em um roteiro. Pode expressar-se de diversas formas: através de uma idéia, story-line, sinopse, escaleta, tratamento, ou roteiro literário.”

O documento chamado Argumento, que você apresenta para um produtor, roteirista, diretor ou banca de concurso, pode ter diversas formas. Não existe um consenso sobre a nomenclatura das diversas formas do Argumento: Sinopse, Tratamento, Escaleta (ou step-outline), Sumário, Síntese (ou Story-line), entre outros.

O CONCEITO (ou a IDÉIA, ou a PREMISSA)

A estória resumida em uma frase. Ex:

“Uma história de amor a bordo do Titanic.”
“O que aconteceria se um padre se apaixonasse pela cafetina da cidade.”
“CIDADE DE DEUS encontra TRAFFIC.”
“TUBARÃO no espaço.”

STORYLINE (ou Síntese)

A estória resumida em um parágrafo. Ex:

“Em uma cidade, diversas mulheres foram assassinadas e ninguém tem pista do assassino. Um jovem cientista inventa um aparelho que aparentemente o permite de se comunicar com os mortos. Em um dos contatos, uma entidade do além diz ser o assassino das mulheres. Para legitimar sua declaração a entidade conta o paradeiro de um dos corpos. Confuso e desesperado o cientista conta o paradeiro à polícia e corpo é descoberto, tornando o cientista o principal suspeito dos crimes. - QUANDO AS VOZES CHEGAM”

A SINOPSE

A estória resumida em uma ou duas páginas.

TRATAMENTO

No Brasil, muitos teóricos e práticos do cinema usam (equivocadamente ao meu ver) ARGUMENTO como sinônimo de TRATAMENTO.

Tratamento é a estória desenvolvida num texto de 15 a 45 páginas, relatando a trama e os personagens, de uma forma visual. Escrito em prosa, se assemelha ao modelo literário do conto e a novela, podendo até conter fragmentos de diálogos.

SUMÁRIO

Um argumento pequeno, de 6 a doze páginas é chamado de SUMÁRIO ou OUTLINE

A ESCALETA (ou STEP-OUTLINE)

Esquema estrutural de um roteiro, contendo o cabeçalho e a síntese de cada cena. A escaleta é o esqueleto do filme, onde o roteirista cria as cenas que deverão ser mostradas ao público. O roteirista que amadurece a narrativa da estória escrevendo e revisando a escaleta, diminui problemas posteriores. Todo o encadeamento da trama, a eficiência dramática, a evolução dos personagens deve ser trabalhada nos detalhes, em forma de escaleta.

Para trabalhar em um roteiro coletivo, a discussão da estória encima da escaleta é fundamental para que os autores definam o roteiro que estão escrevendo, e possam dividir as tarefas de redação de cenas. Na autoria de TELENOVELAS, o ESCALETISTA é o profissional especializado em criar escaletas, sobre a qual os DIALOGUISTAS e REDATORES vão trabalhar.

O trabalho preparatório da escaleta economiza tempo, trabalho, energia e papel, na elaboração de um roteiro.


REGRAS DE ESCRITURA
por Giba Assis Brasil (editado por Fernando Marés de Souza)
(in: A ESCRITURA DO ROTEIRO)

Atenção: as regras aqui descritas têm exceções, algumas já conhecidas e muitas ainda por descobrir, ou mesmo inventar. Em qualquer caso, deve prevalecer o bom senso.

As regras de escritura existem para fazer com que o roteiro seja visualizável. Sempre que a aplicação de uma das regras a um caso concreto estiver atrapalhando a visualização, a regra deve ser deixada de lado. Prevalece o princípio: "O objetivo de um roteiro é tentar estabelecer com o seu leitor uma relação o mais parecida possível com a relação de um espectador vendo um filme."

TERCEIRA PESSOA

Um filme é uma experiência externa, que acontece numa tela colocada à nossa frente, a uma certa distância, com outras pessoas ou personagens. Por isso, todo roteiro deve ser narrado em terceira pessoa.
Como comparação: a maior parte da literatura é narrada também em terceira pessoa, mas existe toda uma tradição de ficção literária em primeira pessoa, e mesmo experiências isoladas de textos literários em segunda pessoa.

VERBOS NO PRESENTE


Assistir a um filme é uma experiência que acontece no tempo, como a música ou o teatro, e ao contrário da pintura, da escultura e da literatura, que acontecem no espaço. O tempo de visualização de um filme é sempre o presente. Mesmo no caso de um flash-back: entendemos, por uma série de convenções, que a cena se passa no passado em relação a outras cenas já mostradas, mas, quando ela está sendo mostrada ao público, ela é percebida como presente. Portanto, num roteiro, todos os verbos devem ser colocados no presente (ou, eventualmente, no gerúndio, que é um presente contínuo).

De novo como comparação: quase todo texto literário é escrito no passado, mas também é comum a ficção no tempo presente, e muito raros trechos de ficção literária são escritos no futuro.

ORDEM FÍLMICA

Tudo no roteiro deve estar na ordem em que vai aparecer no filme: não necessariamente na ordem cronológica, mas na ordem fílmica. Evidentemente que isso se aplica à ordem das cenas, que devem ser dispostas no roteiro conforme a ordem narrativa definida pelo roteirista, e que, em princípio, deve ser seguida na montagem final do filme.

Mas a regra da ordem fílmica tem outros níveis, mais ou menos sutis, de aplicação: a ordem dos acontecimentos narrados em cada cena; a ordem das falas em um trecho de diálogo; a sucessão de trechos de narração e descrição; a colocação das rubricas dentro do bloco das falas; a intercalação das falas com os blocos de narração/ descrição; e, levando-se a regra ao pé da letra, até mesmo as palavras dentro de cada frase narrativa ou descritiva.

Como contra-exemplo, veja o seguinte trecho narrativo:

A porta se abre Fernando entra. Vai até a cozinha. Volta sem a garrafa de leite e o jornal.

A visualização proposta está na ordem errada, pois o leitor "vê" o leite e o jornal exatamente quando não deveria mais estar vendo. No caso, seria melhor:

A porta se abre e Fernando entra, com a garrafa de leite e o jornal nas mãos. Vai até a porta da cozinha, entra. Depois de um instante volta, com as mãos vazias.

A rigor, até uma frase simples como "Mané tira um revólver do bolso" pode ser considerada como estando na ordem errada. Isso porque, ao ler esta frase no roteiro, "veríamos": (1) Mané; (2) o ato de tirar; (3) o revólver; (4) o bolso. No filme, provavelmente, a ordem de visualização seria: (1) Mané e sua mão; (2) o bolso; (3) o ato de tirar; (4) o revólver. Ainda que pareça um certo preciosismo, o roteiro seria mais visualizável com uma frase como "Mané tira do bolso um revólver" ou, melhor ainda, "Mané põe a mão no bolso e tira um revólver".

NADA INFILMÁVEL

Um roteiro não pode ter nada que não seja diretamente filmável. Esta é talvez a regra mais óbvia, e a menos observada. Até porque é possível defender a tese de que "tudo é filmável". No limite, qualquer texto literário (mesmo Kafka ou Joyce, por exemplo) pode ser filmado assim: close no rosto do ator com ar pensativo e uma voz sobreposta dizendo exatamente o texto original. É claro que, quase sempre, esta é uma péssima solução. Mas, em relação às regras de escritura de roteiros, o problema nem é de má qualidade, mas de escritura mesmo: seja qual for a solução encontrada, ela deve estar no roteiro como uma sucessão de imagens e sons, ou seja, como algo filmável - não em tese, mas FILMÁVEL CONFORME ESTÁ NO ROTEIRO.

Os casos mais freqüentes da presença de elementos não filmáveis em roteiros referem-se a pensamentos ou sentimentos dos personagens, relações pessoais e passagens de tempo.

Contra-exemplos de PENSAMENTOS NÃO FILMÁVEIS:
"Everaldo abre um buraco na terra e enterra sua pistola, colocando uma estaca sobre ela, para indicar o lugar, caso algum dia ela seja necessária. Célio observa, de longe, sabendo que é uma revelação para daqui a muitos anos."
"O Delegado pára e pensa até que ponto valeria a pena manter aquele tiroteio contra a quadrilha de Palito. Aquele era seu território e por mais homens que a polícia tivesse na operação a probabilidade de efetuar alguma prisão seria mínima."
"Nélson está desconfiado: foi preso e solto no mesmo dia, isso cheira a armação."

Contra-exemplos de SENTIMENTOS NÃO FILMÁVEIS:
"Marília se sente feia, mal vestida e desinteressante"
"Cíntia está com vontade de fazer xixi."
"Era a primeira vez que Cunhatã vislumbrava um homem branco."
"Eles não percebem, mas estão se envolvendo emocionalmente"

Contra-exemplos de RELAÇÕES PESSOAIS NÃO FILMÁVEIS:
"Márcia está ao telefone falando com Joana, mulher de Ernesto."
"O bar é administrado pelo irmão de Jair."
"Cinara é uma ex-namorada que casou-se com Romeu, um grande amigo que Bernardo só voltaria a ver um ano depois desse encontro."

Contra-exemplos de PASSAGENS DE TEMPO NÃO FILMÁVEIS:
"Dilmar aguarda ansioso por alguns minutos"
"Gilberto está na mesma situação há horas."
"Duas semanas depois, Laura encontra Patrícia para desabafar sobre seu casamento."

Uma exceção importante a esta regra são os NOMES DOS PERSONAGENS.

Se um texto literário começa com a frase "Carlos caminha pela sala", já sabemos, imediatamente, que o personagem se chama Carlos. Mas se a mesma frase é o começo da primeira cena de um roteiro, o personagem permanece inominado - até que alguém o chame de Carlos, num diálogo ou através de uma voz sobreposta, ou até que o nome Carlos apareça escrito numa placa em sua mesa de trabalho, ou numa carta que ele recebe, ou num texto escrito sobreposto apresentando-o, etc. O roteirista precisa levar isso em conta: até ser nomeado (por voz ou escrita) no filme, o personagem NÃO TEM NOME. Portanto, se fosse aplicar a regra do "nada infilmável", o roteirista não poderia escrever o nome do personagem antes que alguém ou algo dentro do filme o enunciasse.

No exemplo acima, o roteiro deveria começar com "Um homem caminha pela sala". Se o personagem dissesse alguma coisa, sua fala seria antecedida pela identificação "HOMEM". Se outro homem entrasse na sala e ninguém dissesse o seu nome naquele momento, ele teria que ser identificado como "outro homem" e sua fala poderia ser antecedida por "HOMEM 2". Claro que, se um deles fosse magro e o outro fosse gordo, poderíamos ter um diálogo intercalando os identificadores "HOMEM MAGRO" e "HOMEM GORDO". Se um terceiro homem entrasse na sala, já seria o "HOMEM 3" ou o "HOMEM NÃO TÃO GORDO" ou ainda, digamos, "HOMEM VELHO" ou simplesmente "VELHO". Mas aí o Homem Gordo chama o Magro de "Otávio" e então, na sua próxima fala, ele não é mais "HOMEM MAGRO" e sim "OTÁVIO". E assim por diante.

A confusão do contra-exemplo acima indica que os nomes dos personagens constituem uma exceção à regra do "nada infilmável", e uma exceção tão evidente que chega a formar uma nova regra: O nome de um personagem deve ser indicado SEMPRE em sua primeira aparição.

O "sempre" da frase anterior também não significa exatamente "sempre". Há exceções, como sempre: (a) personagens que, por decisão do roteirista, não terão nome durante todo o filme - neste caso, o nome será substituído por uma indicação que seja suficientemente individualizada para não confundi-lo com outros dentro do filme: "Herói", "Mulher fatal", "Padre"; (b) personagens cuja verdadeira identidade só será revelada em outro momento do roteiro; etc.

EVITAR TERMOS TÉCNICOS

Um roteiro deve evitar ao máximo possível o uso de especificações técnicas, ou expressões que indiquem explicitamente a filmagem, tais como "close", "plano geral", "travelling", "corta para", "a câmara mostra", "vemos agora".

Por quê? Porque este tipo de indicação ajuda o leitor a imaginar a filmagem, mas não o filme. É como se, em vez de visualizar o filme (afinal o objetivo de todo roteiro), passássemos a ver o seu "making-of": percebemos a câmara aproximando-se para fazer um close, afastando-se para o plano geral, deslocando-se durante o travelling, ouvimos o diretor gritando "Corta!", imaginamos a equipe se preparando para o próximo plano. Este pode ser o objetivo do roteiro técnico (decupagem escrita), mas não do roteiro, no sentido moderno (pós-anos 50) do termo.

Por que a palavra "câmara" deve ser evitada em um roteiro? Porque, a princípio, a câmara não deve ser vista no filme. Por que não se deve usar a palavra "vemos"? Porque não precisa: em princípio, tudo o que está num roteiro deve ser visto.

Já a palavra "ouvimos" tem uma função importante, significando "ouvimos mas não vemos". Se colocássemos em um roteiro a frase "Uma ambulância passa ao longe", o leitor imaginaria um plano aberto mostrando a rua e a ambulância passando lá no fundo. Já a frase "Ouvimos a sirene de uma ambulância passando" deixa claro que a ambulância não deve ser vista, apenas ouvida.

A regra "evitar termos técnicos", é claro, tem exceções, como todas as outras. A exceção mais importante diz respeito a alguns termos técnicos que indicam eventos que devem ser vistos pelo espectador, e portanto devem estar no roteiro.

Por exemplo, fades e fusões (ao contrário dos cortes) são transições entre cenas cujo principal objetivo é marcar claramente uma passagem de tempo ou uma mudança de assunto. Portanto, devem estar referidas muito claramente no roteiro, ajudando a visualização.

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